No meio do caminho tinha um rio

domingo, 30 de janeiro de 2011

Olá! Já deram uma lida lá em cima, não é? O Nas Ruas da Cidade agora tem novidades todo domingo. E nessa edição trarei os destaques da semana. Nesse período de 24 a 28 de janeiro voltei de minhas férias e o que eu vi por Pouso Alegre foi a tentativa da cidade de voltar ao normal depois do longo período de chuvas. Sim. Vi muita gente à espera de comida, de roupas, de remédios, de produtos de limpeza. Pouso Alegre viu transbordar seus dois rios, Sapucaí Mirim e Mandu. As minhas pautas na redação, claro, giraram em torno das ações de ajuda aos atingidos pela enchente - cerca de 2 mil, segundo estimativa da Prefeitura-, mas... é nessas imagens que eu quero que vocês prestem atenção.

Segunda, 24/01

 Avenida principal do Bairro São Geraldo

O Bairro São Geraldo foi o bairro com o maior número de pessoas atingidas pela enchente desse ano. Os moradores convivem com essa realidade, pois o bairro foi construído no meio do curso do rio. O lixo agrava a situação e, bem no dia em que a Administração Municipal anunciou que agentes de saúde estariam no local para dar orientações sobre higiene, as ruas se encontravam da maneira como vocês vêem nas fotos.

As imagens foram feitas por volta das duas horas da tarde. A Rua Nova citada na legenda é um dos locais onde uma tenda da equipe de Vigilância em Saúde foi montada. Agora vejam como estava nesse dia uma rua paralela à Rua Nova.

A Prefeitura não me informou até hoje se a existência da rua é regular. A Administração, por meio da Assessoria de Imprensa, apenas reconheceu que de projetada a via só tem o nome (Rua Projetada) e que não possui rede de esgoto. Fui orientada pela Assessoria a procurar a companhia de saneamento básico da cidade para tirar outras informações (!?).

Pois bem, para chegar à Rua Projetada, basta procurar a tenda de saúde da Prefeitura, na Rua Nova. Apesar dos agentes de saúde estarem distribuindo panfletos sobre dengue e leptospirose, ninguém olhou para o lado da tenda, por onde se estendem as dez casas de moradores que ficaram dias ilhados em meio à água parada e ao esgoto.

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Dia 25/01

(Menino trabalha na coleta de material reciclável no Bairro São Geraldo)

O Estado costuma querer mostrar presença em períodos de calamidade - no caso de Pouso Alegre, o prefeito passou a atender no bairro São Geraldo durante o período da manhã. No entanto, como acreditar na presença do Estado, quando na entrada do bairro mais central e populoso da cidade, na avenida de acesso a várias regiões de Pouso Alegre, de trânsito intenso, lotada de estabelecimentos comerciais, nos deparamos com situações como as registradas acima?

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26/01

Saindo um pouco do São Geraldo, no centro também há quem precise de atenção. Dois dias antes a Assessoria de Imprensa da Prefeitura me informou que o problema seria corrigido.

(Buraco sobre galeria no centro de Pouso Alegre)

O buraco fica entre o guichê da empresa de transporte público e a Farmácia Municipal, na Avenida Doutor João Beraldo. Há uma galeria pluvial que passa sob essa avenida. No dia 15, a companhia de saneamento básico da cidade descobriu que o local estava oco, a galeria tinha cedido sob o asfalto. Como passam redes de água e esgoto nesse trecho da galeria, que estavam com problema, a companhia retirou a "casca" do asfalto e comunicou a Administração Municipal, que é responsável pela galeria. Resultado: a população aguarda providências até hoje.

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Mas como nem tudo nessa vida se resume a doença e tristeza, na quinta, dia 27, cestas básicas e kits de limpeza começaram a chegar até às famílias. Ou melhor: as famílias é que tiveram que ir até às cestas.

Dia 27/01


(Ginásio do Rosão, bairro Jardim Olímpico)

(Moradora do bairro São Geraldo volta para casa depois de receber donativos)

A Prefeitura está cadastrando as famílias que receberão os donativos. Moradores de outras áreas atingidas não estão incluídas ainda.

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Uma história das ruas do São Geraldo

Maria do Carmo Miranda tem 61 anos de idade e mora em uma das casas atingidas pela enchente do bairro São Geraldo. Nascida  e criada no bairro, está acostumada com a enchente e riu quando eu perguntei o que ela esperava do Poder Público. Maria do Carmo perdeu as esperanças na atuação governamental, mas o bom é que continua alimentando sonhos, mesmo que ela não perceba isso.

A casa de Maria do Carmo, que  fica próxima à escola do bairro, conhecida como Ciem São Geraldo, não tem garagem, mal tem teto e paredes, o banheiro é sem iluminação. Mas Maria do Carmo sabe que uma casa não precisa ser assim. Protegida pelas paredes de barro, erguidas há cerca de 30 anos, segundo seus cálculos, ela constrói com as próprias mãos pequenas moradas.

Essa é Maria do Carmo junto com os netinhos. Ao fundo uma das casas que imaginou - com luz, é claro

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Comments

5 Comments

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Anônimo disse...

É muito bom ver que tem alguém de olho, mostrando para a população o que os políticos não fazem durante os quatro anos que estabelecem como sua moradia, lar "o município" e nem sequer lembram de mantê-lo em ordem, bem cuidado, limpo. E pensar que há pessoas que ainda acreditam neles e veja bem, na próxima eleição eles estarão lá pleiteando os votinhos deles. Sua reportagem é ótima. bj. Luz!

Éder Couto disse...

Parabéns Daniela. Só você mesma para descobrir peculiaridades desta nossa cidade há muito esquecida pelas autoridades políticas. Fico pensando quantas vovós igual a Maria do Carmo existem em nossa Pouso Alegre.

Ah, e reforço o que já comentei contigo: no meio do caminho não tem só um rio... aqui em PA também aparecem cavalos, portanto cuidado senhores motoristas!

Daniela Ayres disse...

Muito obrigada pelo apoio, Anônimo e Éder! Só completando, Éder, tem vaca também. É sério. Não é piada não.

Maluco de Tudo disse...

Cara Daniela!
Vc precisa conhecer a qualidade dos serviços executados na Av. Alberto Paciuli bem como o trecho de sei lá qual o nome daquele logradouro que segue em direção à BR459 logo após o Ribeirão das Mortes.
Veja que beleza de entrada e saída tem o "presídio".
Perceba que não há galeria de captação das águas da chuva, sendo assim, aquilo é uma baderna. Existe um ameaço de galeria bem na curva, onde há uma lombada e logo após, no sentido cidade-BR há uma armadilha para motorista!

Daniela Ayres disse...

Obrigada, Ma, pela sugestão. Passarei por esses locais.

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